A Pertinência do Psicodrama na Pré-Adolescência

Neste cenário de (re) construção identitária, o Psicodrama de Grupo assume-se como a modalidade terapêutica por excelência; a mais adequada, pelas suas características, para esta faixa etária.

Entre, sensivelmente, os 10 e os 14 anos de idade, a criança entra num processo gradual de desenvolvimento em que se vai tornando adolescente e, nesse entretanto, é pré-adolescente. Nesta fase de transição e de alguma turbulência, ocorrem mudanças significativas, devido às transformações corporais pubertárias que se expressam tanto a nível interno, como a nível externo.

As mudanças vivenciadas tornam-se evidentes nos diversos contextos de vida do pré-adolescente. Com o surgimento do raciocínio hipotético-dedutivo, da moral e da capacidade de realizar juízos de valor, as potencialidades cognitivas alteram-se, ocorrendo uma progressiva capacidade de abstração simbólica.

Os padrões relacionais e de identificação também se modificam, havendo agora uma maior necessidade de estreitar laços entre os amigos e/ou colegas e de sentirem que pertencem ao grupo de pares.

 

Neste cenário de (re) construção identitária, o Psicodrama de Grupo assume-se como a modalidade terapêutica por excelência; a mais adequada, pelas suas características, para esta faixa etária.

 

No que se refere à sua constituição, a Equipa Terapêutica é formada por dois ou mais terapeutas especializados (o Director e o(s) Co-Terapeuta (s)), que se ocupará do grupo de pacientes em intervenção.

 

No Psicodrama de Grupo é favorecida a expressão global através da palavra e do corpo, privilegiando-se a troca e a partilha entre os vários elementos, bem como as interações através do Jogo. Ao promover a comunicação verbal e não-verbal, através da expressão global do ser humano, trabalham-se os aspetos emocionais e afetivos: ser; sentir; estar na relação com os outros e consigo mesmo.

Assim, o pré-adolescente pode ir aceitando e gerindo o processo de transformação que está a atravessar, seja pela identificação com os pares, seja pelo acolhimento e segurança proporcionados através da equipa terapêutica e do grupo como um todo. Isto vai contribuir, nesta fase de desenvolvimento, para melhorias em termos de contacto e relacionamento interpessoais; da consolidação da auto-estima e auto-conceito; da aceitação e auto-regulação perante limites e regras; auto-confiança e afirmação do sentido de si mesmo.

 

Estes benefícios são alcançados pela constância e permanência no grupo terapêutico.

O mesmo decorre numa periodicidade semanal, tendo uma duração total mínima de aproximadamente dez meses.

Por outro lado, e complementarmente, é reservado aos pais um lugar, no qual são atendidos, pontualmente, na perspetiva de os ajudar a lidar com as questões do quotidiano e com preocupações e/ou ansiedades que possam surgir durante este percurso. Deste modo, o processo de crescimento e individuação dos filhos serão simultaneamente sustentados e reforçados por mudanças positivas no seio do próprio núcleo familiar.

 

Consideramos, então, que o apoio possibilitado pelo Psicodrama de Grupo é de particular importância neste período de vida, tendo em conta o desafio que a própria Pré-adolescência coloca: o sentimento de inclusão e de pertença a um grupo. Inaugurando o trajecto de adolescência, o pré-adolescente passa a desejar inserir-se num outro espaço e meio distinto do seu grupo familiar. Contexto este onde vigoram outras leis e se desenrola o seu crescimento pessoal, com a consolidação da autonomia e da personalidade, direccionado para o futuro.

 

 

Por Ana Rita Valbom

Psicólogo inscrita na Ordem dos Psicólogos Portugueses com cédula nº 66 especialista em Psicologia do trabalho, social e das organizações, em Psicologia Clínica e da saúde e em Psicologia da Justiça.

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